Thursday, October 20, 2011

Conto - Velhos Amigos

-----A minha primeira tentativa na escrita de um conto.-----


Velhos Amigos

  “ Isso é normal Marta, já faz quatro anos que não o vês, não te culpes por isso.” João tentava consolar Marta depois de lhe ter dado as noticias que o melhor amigo deles, e noivo dela tinha, caído em batalha.
  "Como é que ele morreu?" Estavam os dois sozinhos na sala da casa de Marta, os pais dela já se tinham retirado para descansar. "Numa batalha." Marta não estava contente com a resposta."Não me vais dizer como?" "Não."
  Depois desta breve troca de palavras impôs-se um silêncio frio e constrangedor entre eles.
   "O incrível é que eu estou deprimida simplesmente porque acho que não me sinto suficiente mal em relação ao que aconteceu ao André." Joana desabafou. "No entanto isso é normal, já não o vias há mais de quatro anos."
" E isso é desculpa para alguém que iria ser meu marido? Mas que raio de mulher seria eu? Talvez ele estivesse melhor sem mim, talvez seja por isso que nunca mais o vou ver." João não sabia que lhe responder e por isso limitou-se a ficar em silêncio.
  "Queres tomar um chá? Eu posso fazer." Perguntou João enquanto se levantava do sofá onde se encontrava instalado. "Deveria ter sido eu a oferecer, afinal estás em minha casa. Mas sim quero e obrigado."
  Alguns minutos depois João reentrou na sala com duas canecas. "Vais voltar para a guerra?" Perguntou Marta enquanto João lhe passava uma das canecas. "Ainda não sei."
  "Estiveste muito tempo com ele enquanto andavam lá?" Perguntou Joana. "Nos primeiros tempos, depois acabámos por ser colocados em locais  diferentes, fez um ano que não o via até no termos encontrado uma semana antes de ele morrer."
  Ambos pausaram para bebericar um pouco de chá. "E tu que tens feito?" Marta sentiu-se incomodada pela pergunta. "Nada de jeito, comi, dormi, namorisquei, li as cartas dele e respondi. Porque é que tu nunca me mandaste uma carta?" "Talvez pela mesma razão que tu nunca me enviaste."
  "Estou a ficar velha, a continuar assim nunca vou ter filhos." "Quem iria imaginar que Marta alguma vez iria querer ter filhos, ainda parece ontem que te via a correr atrás de quem quer que fosse que te disse-se que eras uma rapariga." Disse João com um sorriso nos lábios. "Não sejas estúpido." Resmungou Marta, também ela com um sorriso nos lábios.
  "Mas pretendentes não te devem faltar!" "Faltam-me os decentes." "Falas deles como se fossem gado."  " E de certa forma é exatamente o que eles são, e eu sou o mesmo para eles."
  Alguém bate há porta. "Deixa-te estar, eu vou lá." Disse João quando Marta se preparava para levantar. Ela ainda tentou ver quem era mas apenas soube quando João lhe disse. "Era o meu pai, vou ter de ir a casa mas volto daqui a pouco." João vestiu o seu casaco. "Leva as minha chaves então, para não teres de bater à porta, estão em cima da mesa." "Até já." Despediu-se João antes de sair.
  Passou uma hora até João ter voltado. Encontrou Marta deitada a dormir no sofá, pegou num dos cobertores que se encontravam espalhados pela sala e aconchegou-a para ela não sentir frio. Sentou-se então numa poltrona em frente à janela, para poder contemplar o céu.
  Já amanhecia quando João ouviu alguém a descer as escadas que davam acesso ao segundo andar, era a mãe de Marta que devia ter acabado de acordar.
"Bom dia minha senhora." João tentou não soar deprimido. "Bom dia. Mas não precisas de ser tão formal comigo, afinal de contas somos quase como família. Ela adormeceu há muito?" Marta dormia profundamente no sofá "Há alguma horas."
  "Deixa-a estar então, a coitada não tem dormido muito nestes últimos dias. Diz-me uma coisa, ainda gostas dela?" João ficou pensativo a olhar para a mãe de Marta a pensar no que devia responder. "Sim."
  "Na altura em que vocês os três andavam sempre juntos, sempre me perguntei qual de vocês os dois seria o primeiro a perguntar, porque ela teria aceitado qualquer um de vocês desde que fosse o primeiro. Vê se desta vez não perdes a corrida." João não disse nada e voltou mais uma vez a contemplar o céu.
  "Vou fazer o pequeno almoço para mim e para o meu marido, queres que faça alguma coisa para ti?" Perguntou ela aborrecida por João não ter dito nada depois da sua critica "Não, obrigado. Prometi aos meus pais que ia tomar o pequeno almoço lá a casa."
  "É pena, mas compreendo, agora peço desculpas mas tenho de ir."
  Alguns minutos depois foi a vez do pai de Marta descer, depois de cumprimentar João e de ter verificado que a sua filha estava a dormir dirigiu-se rapidamente para a cozinha, de onde João podia ouvir os dois a Falar.
  "Encontras-te alguma coisa no céu?" Marta tinha acordado. "Apenas descobri que hoje é capaz de chover." João respondeu sem nunca deixar de fitar o céu. "Tanto melhor, não tenho vontade nenhuma de sair de casa."  Marta bocejou. "Mas devias sair, não é por ficares aqui que as coisas vão melhorar." Disse João num tom aborrecido.
  "Mas não é por sair dela que vou ser feliz."
  "Nunca saberás se não saíres."
  "Quem me dera ser daquelas pessoas que sabe exatamente o que precisa para ser feliz." João não disse nada. "Tu sabes o que precisas para ser feliz?"  João ponderou na sua resposta. "Posso dizer que sim." 
  "Agora vais ter de me dizer o que é." Marta continuava a insistir. "Vá lá conheço-te desde pequenos, pode ser até que eu possa ajudar."
  "Casas comigo?" João tinha-se virado para ela de forma a olha-la nos olhos antes de perguntar. Marta, por seu lado, estava atónita, de boca aberta e a olhar para João. "Foste tu que o mataste?"
  João olhou para o céu por alguns momentos, levantou-se e quando passou por Marta esta conseguiu ver lágrimas a formarem-se nos cantos dos olhos de João. Quando chegou à porta João olhou novamente para Marta e disse-lhe. "Espero que possas encontrar a tua felicidade, porque eu neste momento perdi a minha."

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